Lado K

Aquele lado do Karamba, do Kct e "K"etc., que assim como vocês, eu também tenho.

domingo, fevereiro 26, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 10 – Entre o Trabalho e Hollywood

No dia seguinte, acordei cedo. Às nove e meia eu já esperava a viatura de uma rádio de Los Angeles, que me levaria para uma entrevista em estúdio. Eu não estava a fim de dar entrevistas depois de ver minha foto no jornal, mas como talvez quase ninguém associasse de início quem era eu, torci para que não tivesse de responder nenhuma pergunta comprometedora. E por isso também não esqueci da minha aliança.
Quando cheguei aos estúdios, fui muito bem recebida. O programa já havia começado, mas a minha entrevista só começou às onze horas. Meu primeiro single estava na programação há um mês e estava entre as dez músicas mais pedidas, o que para uma iniciante, já era um bom começo. Após a entrevista e o lançamento do cd, a tendência era melhorar essa posição.
Graças a Deus, eles não estavam muito interessados na minha vida pessoal. Mencionei o nome do meu namorado porque ele ajudou a produzir algumas músicas e por ser o guitarrista da minha banda. Assim, se alguém tivesse pensado em perguntar sobre Orlando, talvez tivesse desistido até porque eu era uma artista iniciante querendo apenas divulgar meu trabalho, e não valia a pena fazer polêmica da minha vida ainda mais em uma rádio cristã. Saí de lá aliviada, peguei um táxi e fui almoçar com na casa dos Depp. Vanessa ligara dizendo que iria para Nova York no dia seguinte, e só estaria de volta com sua filha para a festa do Oscar.
No meio da refeição, surgiu o nome de Orlando. Vanessa comentou que soube que saímos juntos num site de fofocas. “E Jim?”, ela perguntou. “Não sei, até hoje continua sem me contatar”, respondi. Johnny afirmou que enquanto isso, Orli andava feliz da vida. Continuou dizendo:
- Talvez ele tenha se interessado por você... Claro que não tenho certeza, mas eu o conheço bem para perceber quando está empolgado com alguma garota. Quando Kate estava nos sets, Orlando estava sempre mais feliz que o normal. Mas também quando brigaram, ele largou tudo para trás e veio para LA. Andava por aí meio emburrado, até o dia que te conheceu.
- Desculpe-nos pela intromissão – disse Vanessa, sorrindo – Talvez você não pense isso dele e nem tenha planos de terminar com o Jim, mas seria bacana ver você e o Orlando juntos.
- Não precisam se desculpar – respondi - Vocês são meus amigos e podem falar o que pensam. Só saberei do meu futuro com James quando voltar a Nashville, e por enquanto não pretendo mesmo deixá-lo. Além disso, ainda estou conhecendo Orli. É um rapaz maravilhoso, mas por ora é só amizade mesmo.
- Atitude invejável, Krystal – elogiou Johnny – Muitas mulheres no seu lugar não pensariam duas vezes em largar o namorado. Não é à toa que Orlando gostou de você, e cá entre nós, não é qualquer mulher que mexe com ele. Espero que ele ainda não tenha se apaixonado, não quero aturar o mau humor dele quando você for embora...
Eu estava curtindo o momento e nem pensava se isso poderia mesmo ficar sério, mas depois do almoço com os Depp estive pensando no que Orlando fazia por mim. Ligava quase todos os dias, adiara sua viagem de volta para as Bahamas, gastou comigo no shopping o equivalente à metade do aluguel do meu apartamento... E se ele se apaixonasse... e eu também? Eu tinha medo de que acabássemos nos machucando ou a outras pessoas.
Na quinta-feira à noite, eu tinha uma entrevista na TV CBS. Como não me ofereceram transporte, fui de scooter com Melissa. Era um talk show ao vivo, e cheguei um bom tempo antes para me preparar. Quinze minutos antes de começar o programa, chegou um recado no camarim: Havia um tal de John Blanchard no telefone da produção querendo falar comigo ou com Melissa. “Criança, é o Orli. Atenda-o por favor”, cochichei para ela. Eu só esperava que ele não desse palpite no meu trabalho.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 9 – It’s The End Of The World As We Know It, But I Feel Fine…

Àquelas horas, a La Cienega Boulevard estava agora completamente deserta. O shopping já estava fechado e a maioria dos americanos já deveriam estar dormindo, assim como Melissa e até mesmo o presidente Bush, que recentemente recebera ameaças de Osama Bin Laden. Com exceção das redações de revistas de fofoca, ninguém mais imaginaria que uma desconhecida estivesse naquele momento nos braços de um ator de cinema dentro de uma Hilux pifada em plena Beverly Hills. E eu também não me preocupava em ser essa desconhecida, pelo menos por enquanto.
Não consigo descrever o que senti enquanto nos beijávamos. Talvez o prazer da aventura, o sabor da vingança, a adrenalina da adolescência. Cada olhar e cada sorriso eram docemente estranhos, mas de repente, me dei conta de que tinha perdido a noção do tempo e da circunstância em que nos encontrávamos. Me afastei delicadamente e indaguei:
- Querido... - era a primeira vez que o chamava assim – Não acha que fomos esquecidos aqui? Da hora que a seguradora viria, até agora nada...
- Mas eles não virão mesmo, amor. – Ele respondeu tranqüilamente.
- Como não? – perguntei, exasperada - Vamos ficar aqui até quando?
- Você está com pressa, linda? Eu ficaria aqui a noite inteira...
- Passar a noite aqui não estava no roteiro, Orli. Acho melhor procurar logo um jeito de a gente ir embora, Melissa pode estar preocupada comigo...
- Bem, se você quer mesmo, então vamos – disse ele, se ajeitando no banco – Você já ouviu dizer que um beijo pode fazer milagre?
Dizendo isso, deu partida no carro, que funcionou perfeitamente.
- Orlando! Você me sacaneou, não?...
- Mais ou menos... Se não fosse assim, acho que seria um pouco difícil arrancar um beijo seu... Estou errado?
Propositalmente, Orli deixou o dispositivo anti-roubo provocar o corte do combustível do carro. Quando paramos e ele apertou o botão do painel, o carro voltou ao normal e não fomos rastreados. E eu estava tão distraída que não percebi a trapaça do rapaz, mas agora era tarde.
Ao chegar em frente ao meu prédio, nos despedimos com um selinho. Quando eu ia abrindo a porta do carro...
- Espere – disse ele, me entregando as jóias que comprara no shopping – Isso é para você. Obrigada pela noite.
- Ora... Sou eu quem agradece!... Não precisava se preocupar comigo. Por falar nisso, por favor, devolva a minha aliança. Acho que ainda preciso dela.
Enquanto Orlando manobrava o carro, corri para o elevador, passando despercebida pelo porteiro que cochilava. Era quase uma hora da manhã, e o silêncio reinava no meu apartamento. Guardei as jóias e fui me arrumar para dormir.
Ao amanhecer, comecei a contar a Melissa sobre o shopping, enquanto tomava café. Retornei a ligação de Mark, que deixara recado com Melissa. A gravadora havia agendado duas entrevistas para mim, uma no rádio e outra na TV, e os cds que chegaram para mim era material para sorteio. Só mais uma semana, e eu voltaria para Nashville. Mas a agenda já começava a encher.
Melissa saiu para comprar chocolates. Além dos doces, ela também trouxe um jornal que o porteiro mandara. Disse que ele tinha perguntado por mim, pois não me viu retornar na noite anterior, e depois, abriu o caderno de variedades do LA Times e me mostrou uma nota no canto inferior esquerdo da segunda página. Fiquei pálida ao ver a foto de Orli e eu, e um título que dizia: “Mr. Bloom flagrado com novo amor em LA”. Saímos de caras limpas na foto! Seria o fim do mundo quando Jim soubesse. Eu ainda não estava arrependida de ter ficado com Orlando, não que eu achasse que isso fosse certo, mas porque eu não tinha culpa do que aconteceu. Mas enquanto as confusões não estouravam, resolvi me acalmar. Eu ainda estava bem.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 8 - O Anel Que Não Me Salvou

Entramos então no pequeno salão cercado por vidros fumê, mas isso de nada adiantava já que fomos flagrados logo na ala de espera, que tinha apenas um cordão como divisória do corredor principal: área nada VIP. Na mesa, duas porções de salada e “The Great Potato”, uma espécie de lanche de batata assada com peru, coberto com molho e queijo cheddar. Para beber, respirei aliviada: refrigerante, só havia Pepsi. Pedi 300 ml de Pepsi X, e Orli preferiu chá gelado, rindo de mim porque não tenho muita simpatia pela Coca-cola. “Os dois provocam celulite e osteoporose do mesmo jeito!”, brincou, e eu mostrei a língua como resposta.
O lanche estava delicioso e Orlando procurava me distrair para que eu não pensasse no episódio do paparazzo. Bom, era melhor se divertir e deixar para pensar naquilo depois. Falamos sobre política, trabalho e o Brasil.
- Já fui ao Brasil, na cidade do Rio de Janeiro – comentou Orli - Estava muito calor por lá. É perto de São Paulo?
- É sim, são estados vizinhos, mas nunca estive no Rio. Na verdade, lá é uma cidade quente o ano inteiro, inclusive uns amigos do sul do Brasil a apelidaram de “Hell” de Janeiro...
- Há, há, há, essa foi boa. E no sul não faz calor também?
- Claro que sim, mas ao contrário do sudeste onde ficam Rio e São Paulo, no sul o inverno também é muito rigoroso, e é a única região do Brasil onde neva. Eu por exemplo, só conheci a neve aqui nos Estados Unidos.
- Nossa! Deve ter estranhado um pouco, não é?
- Sinceramente, fiquei fascinada! Passei várias tardes fazendo bonecos de neve no jardim, enquanto Melissa ria da minha cara...
Notei que Orlando olhava nos meus olhos com intensidade e às vezes fazia alguns comentários que me deixavam encabulada, além da fixação pela minha aliança. Eu desconversava e levava na brincadeira, mas sabia que no fundo ele também me provocava um certo interesse. E eu lutava para me desviar desse pensamento.
Ao terminar a refeição, Orlando sugeriu uma sorveteria. Eu estava farta, mas ele me convenceu. Após pagar a conta, fomos ao elevador e descemos no sexto andar. De repente ele me puxou pela mão. Entramos na Jennifer Kaufman, uma joalheria.
- Quero comprar um presente para uma amiga – explicou ele.
Solicitou à atendente que mostrasse o catálogo de cristais Swarovski e pediu minha opinião. Escolheu então um simples e belo conjunto de brincos, colar e anel, de cento e cinqüenta e sete dólares. Fomos os últimos clientes da loja naquela noite.
Fomos então ao sétimo andar. A Silky Smooth Ultra Premium Ice Cream é uma sorveteria nova no Beverly Center e bastante aconchegante por sinal, aliás, parecia até que Orlando escolhera cada local a dedo. Enfim, após mais um longo tempo degustando sorvetes, resolvemos deixar o local antes que o shopping esvaziasse de vez e pudéssemos ser novamente surpreendidos. Era quase onze horas da noite.
As avenidas já estavam vazias. Tomamos a La Cienega Boulevard rumo ao sul, e quando tínhamos percorrido cerca de quatro milhas, o motor da Hilux pareceu falhar. Paramos em um trecho meio deserto, em frente a um prédio comercial. Orlando me tranqüilizou:
- Aqui é sossegado, linda. Quando o carro falha, o satélite já nos identifica. É só apertar este botão aqui... O pessoal da seguradora não vai demorar a chegar. Enquanto isso, deixe-me ver direito sua aliança... Eu a achei bem idealizada.
Tirei o anel e entreguei a ele. Orli aproximou-se, fingindo observar os detalhes da aliança, mas de repente ele colocou o anel no bolso, deu um sorriso maroto e me encarou bem de perto.
- A dona sem a aliança é muito mais interessante.
Antes que eu pudesse protestar, ele me abraçou e pressionou seus lábios contra os meus. E eu não pensei em mais nada.

domingo, fevereiro 19, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 7 - Flagrados

Acordei cedo no dia seguinte. Fui com Melissa ao sermão de domingo da Christian Church of Inglewood, na Florence Avenue, e assim que voltamos para casa, Orlando ligou. O passeio ao Beverly Center ficou marcado para segunda feira às cinco da tarde. Não satisfeito, ele me convidou para conhecer seu apartamento ainda naquela tarde, mas recusei delicadamente, alegando estar esperando uma ligação importante de Nashville. Senti pena dele, pois devia estar se sentindo muito só, mas infelizmente eu não poderia estar ao seu lado toda hora. Quando anoiteceu, fui para o quarto assistir televisão, e adormeci pouco tempo depois.
No dia seguinte, acordei um pouco atordoada. Sonhara com Jim chegando à minha porta, e logo que eu a abria, ele virava as costas e ia embora sem dizer nada, me deixando em prantos. Pensei em Orlando para espantar o breve mal estar.
Ao meio dia, chegou uma encomenda de Nashville na portaria. Mark mandara quatro CDs e um bilhete dizendo que ligaria naquele dia à noite. “Sinto muito” – pensei – “mas hoje, só amanhã!”
Às quatro e cinquenta da tarde eu já estava arrumada. Nem mexi no cabelo, e optei por trajar um vestido preto com detalhes prateados na barra, presente de Jim. Cinco minutos depois, o interfone tocou. Era o porteiro anunciando que Orlando já chegara.
Ele estava impecável de terno, e se espantou que eu tivesse sido pontual. Caminhamos para o carro, uma Hilux blindada, de cor preta, e logo partimos em direção a Beverly Hills.
- Curte Ben Harper? – perguntou Orli, assim que manobrou a caminhonete. Acenei que sim, e ele conectou seu iPod ao som do carro, enquanto acelerava rumo ao norte na Normandie Avenue. Seguimos ouvindo Diamonds On The Inside.
Pouco mais de vinte minutos depois, chegamos ao Beverly Center, um imponente prédio de oito andares e fachada arredondada. Orli estacionou no subterrâneo e fomos de elevador até o primeiro piso, em frente à Macy’s Men Store. Na vitrine, havia um manequim com um sobretudo semelhante ao de Orlando, por 900 dólares, na promoção. Me senti numa espécie de Daslu, mas sem a aversão que o nome desta última me provoca.
Entramos no Hard Rock Café, e como Orlando previra, fiquei encantada. Instrumentos e outros apetrechos de músicos famosos me chamavam a atenção, e como qualquer pessoa da indústria da música, eu me senti em casa. Pedimos Veggie Burger e vinho Brancott, pois sair do Hard Rock Café sem comer nada seria um pecado. E ainda havia mais sete andares e outros restaurantes para visitar. Depois de uma hora e meia, saímos. Orli aproveitara para comprar um par de óculos escuros e eu comprei uma réplica em miniatura do baixo de Lonnie Chapin.
O Beverly Center é uma experiência para dias, não para uma rápida visita. E como não tínhamos muito tempo disponível, percorremos os demais andares em apenas duas horas. Quando chegamos ao oitavo andar, fomos ao “The Great Steak & Potato Company”. O nome é quase um palavrão, mas é um ótimo restaurante. Como Orlando reservara uma mesa VIP antecipadamente, o gerente nos indicou a ala de espera onde sentados em um sofá de veludo marrom, escolhemos o prato e aguardamos até que a mesa estivesse posta. E foi ali que um fato inesperado aconteceu.Orlando acabara de contar uma piada que ouvira nos bastidores de Cruzada. Ele já nem achava mais graça, mas eu quase chorei de rir. Enquanto tentava me refazer, Orli procurava com o gerente com o olhar para dizer que o prato estava demorando, e foi então que alguém passou com uma câmera, lentes viradas para o nosso lado. Não vimos nenhum flash, mas logo fiquei séria e cutuquei Orlando. “Não acho difícil que tenham nos fotografado”, ele disse com um olhar preocupado. E eu só pensei uma coisa: “To ferrada”.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 6 - Dois Estrangeiros Em Inglewood

Depois que nos servimos à mesa, Melissa pediu licença para almoçar no quarto. Orlando ainda pediu para que ela ficasse, mas a garota insistiu e se retirou. Ele certamente se sentiu mais à vontade assim, e continuamos a conversar. Percebi que ele continuava curioso em relação ao meu anel, até que finalmente perguntou:
- Este é o mesmo anel que você estava usando naquele dia? Parece que aquele tinha uma correntinha...
- É o mesmo, sim. É minha aliança, e aquela correntinha é um acessório opcional, é só encaixar. Esse detalhe externo é o meu nome e o do Jim gravados em hebraico.
- Ah sim... – Orlando observou meio sem jeito - Não sabia que você tinha namorado.
- Pois é... Mas faz quase 20 dias que não nos falamos.
- Nossa! Por que? Vocês brigaram?
- Sinceramente Orli, nem eu sei o que aconteceu. Ele apenas disse que iria para a fazenda da avó em Kentucky pensar sobre o nosso relacionamento. Aí, para não ficar no vácuo esperando o tempo passar, resolvi passar uns dias aqui.
- Mas ele nem procurou saber de você?
- Não, a única coisa que ele fez foi deixar um recado na secretária eletrônica dizendo que está bem. Nem perguntou onde e como estou.
- Sinto muito, Krystal... Que situação! Bem, não sei se você sabe, mas eu também tenho uma namorada. Brigamos dias antes do Natal, lá nas Bahamas. Eu tinha de vir para cá no início deste mês, mas acabei largando tudo lá e chegando aqui bem antes, até passei o ano novo sozinho.
- Que pena... Então a briga foi feia mesmo hein...
- E foi. Ela quase deu show em um restaurante dizendo que eu estava tendo um caso com a Keira Knightley, o que não é verdade. Sabe, gosto muito da Kate, mas dessa vez ela não se mostrou compreensiva e humilde o suficiente. Sei que ainda teremos de conversar sobre isso, mas por enquanto estou refrescando a cabeça por aqui. Inclusive eu até tirei a minha aliança para não ficar lembrando do assunto.
- Então estamos quase na mesma situação, meu amigo. E pelo menos para mim LA tem sido uma ótima cidade para fugir dos meus conflitos. Vamos provar o vinho então?
- Como quiser, querida. Vamos brindar essa confusão toda! Uma brasileira e um inglês na América, tomando vinho italiano para esquecer os problemas!
Entre risos, brindamos. Embora tristes com os nossos parceiros, estávamos nos divertindo bastante como “fugitivos” na cidade dos anjos. Orli devia estar pensando o mesmo, apesar de estar mais solitário do que eu. De repente, ele me perguntou se eu já tinha visitado Hollywood. Respondi que estive no Hollywood Boulevard no domingo anterior, e ele então me convidou a ir ao Beverly Center, o famoso shopping de Beverly Hills. Hesitei em aceitar, mas ele insistiu dizendo que o clima era tranqüilo às segundas feiras e eu adoraria conhecer o Hard Rock Café. Acabei cedendo, embora ainda receosa. Mas se ele como freqüentador dissera que era assim, tudo bem.
Era quatro horas da tarde quando ele se levantou para ir embora. Agradeceu pelo almoço e me deu um longo abraço. Pediu que eu chamasse Melissa, e disse a ela que ainda queria ter o prazer de sua companhia à mesa. Depois, me beijou no rosto e disse que ligaria no dia seguinte para combinar o horário que ele viria me buscar na segunda feira. Ficamos observando até que ele pegou sua caminhonete, estacionada do outro lado da rua, e partiu na direção norte.

- Ele é legal, né... – Melissa murmurou com um leve sorriso, o olhar distante.
- Pois é, criança. Seja menos fresca e não se esconda da próxima vez.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 5 - 1, 2, 3. Seja Bem Vindo, Orli.

Naquela quinta feira eu estava cansada. Descarreguei as fotos dos passeios no meu laptop e fiquei algum tempo na internet, lendo e-mails e notícias e atualizando minha agenda. Por volta das cinco e meia da tarde, enquanto me espreguiçava na cama, Melissa entrou no quarto, correndo com o telefone na mão. Pela sua expressão facial atônita eu já sabia quem era.
- Oi Orlando, como está?
- Eu estou ótimo, obrigado. E você, linda?
- Estou bem, só estava com um pouco de preguiça.
- Ah, isso é normal pra quem está de férias. Só uma coisa... pensei que tivessem dito a você que era William Turner ao telefone...
- Bem, senhor Blanchard, acho que suas camuflagens não funcionam mais por aqui, hehe.
- Há, há, há, é verdade...
Bloom é um cara divertido. Até hoje eu dou risada das suas tiradas inteligentes e das suas piadas inglesas. Quase não falamos sobre cinema. Na verdade eu queria conhecer o amigo, não o ator, pois a fama e o glamour enjoam, e as amizades verdadeiras dos bastidores se tornam sempre mais interessantes.
A certa altura da conversa, ele me perguntou se eu estava gostando da cidade e onde eu estava hospedada. Normandie Avenue, na divisa de Inglewood com Los Angeles. Ele já passara pela região, mas só conhecia o Aeroporto Internacional. Perguntou se era tranqüilo como o seu apartamento no Wilshire Boulevard. Ora, nada se compara a Beverly Hills, mas percebi que ele estava quase se convidando a ir me visitar e “conhecer o bairro”. Bem, formalizei o convite, e ele prometeu almoçar comigo no sábado seguinte, à uma hora da tarde.
Não comentei nada com Melissa para não assustá-la. Na sexta feira limpamos o apartamento e fomos ao supermercado, onde comprei chocolate, macarrão, batatas, carne em tirinhas e arroz, o que Melissa estranhou. Inventei então a desculpa de que a gente ia preparar umas refeições e deixar no congelador porque depois de qualquer passeio, não precisava chegar cansada e perder tempo na cozinha.
No sábado às onze e meia da manhã, quando Melissa terminava de preparar a comida, eu resolvi contar que Orlando iria almoçar com a gente. Ela empalideceu. “Por que você não contou antes?!” - perguntou, em pânico. Mas dessa vez não havia como escapar. Ela então se conformou e tentou disfarçar sua ansiedade.
Uma característica famosa dos ingleses é a pontualidade, mas dessa vez, o porteiro anunciou a visita quase quinze minutos após o horário marcado. Mandei subir, e logo a campainha tocou. Contei até três, respirei fundo e abri a porta. Orlando estava bem agasalhado, de touca de lã e um sobretudo marrom que disfarçava perfeitamente seus quadris estreitos, além de um perfume ótimo. Assim que entrou, me presenteou com uma garrafa de vinho italiano. Ao sentar no sofá, ele comentou que se lembrara do conforto de sua casa na Inglaterra.
- Orlando, por favor, não repare na casa! – eu disse, meio encabulada.
- Não reparei propositalmente – disse ele com um belo sorriso – e por favor, não precisa me chamar de Orlando. Chega de formalidades, pode me chamar de Orli.
- Ok, Orli – respondi com um sorriso maroto. “Que apelido meio gay” pensei, segurando uma risada. Mas eu ainda pagaria caro por esse pensamento. Minutos depois, ele perguntou pela “garota que atende ao telefone”. Chamei Melissa e ela surgiu da cozinha, já corando. Orli a cumprimentou e ao perceber a timidez da garota, brincou dizendo que não mordia, principalmente se fosse uma garota tão meiga quanto a Drew Barrimore. Melissa, completamente vermelha, sorriu, murmurou um “thank you” e disse que a refeição já estava pronta.

domingo, fevereiro 05, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 4 - The Days After

Eu mal acordara e Melissa entrou no quarto, trazendo o café da manhã. Tinha uma expressão curiosa no rosto, queria saber como foi o jantar.
- Foi muito bom, me diverti bastante – eu disse. Sabe quem encontrei por lá?... O Orlando.
- Sééérioooo? – Melissa arregalou os olhos verdes – Ele é o Bloom, ator, não é?
Acenei afirmativamente, e perguntei como soube.
- Bem, eu associei alguns fatos: Ele se chama Orlando, é amigo dos Depp e está em Los Angeles... Só poderia ser o Orlando Bloom. E aí, o que achou dele? Ele é lindo, não é?
- É... Até que conseguiu me impressionar um pouquinho. Ele disse que vai ligar qualquer dia desses, se quiser conversar com ele fique a vontade... desde que não tenha nenhum ataque histérico ao telefone.
- Ah não, amiga, pelo amor de Deus... Vou tremer só de ouvir a voz dele!
- Azar o seu, criança. É você quem atende ao telefone mesmo...
Melissa sempre foi extremamente tímida, e às vezes eu tinha pena dela por que apesar disso, ela era muito inteligente. Quando cheguei a Nashville e me instalei na casa ao lado da sua, ela tinha 15 anos. O grande amor de sua vida a tinha rejeitado e a moça estava em depressão. Fiz amizade com sua família e algum tempo depois a garota passou a freqüentar minha casa. Um dia, sua mãe propôs que ela me ajudasse nas tarefas domésticas quando eu precisasse, então negociei um preço razoável por dia trabalhado e foi assim que Melissa passou a limpar minha casa e cozinhar duas vezes por semana, e quando eu viajava, às vezes ela ia comigo. Já havia se passado dois anos e a garota se livrara da depressão, mas sua timidez continuava sendo a grande vilã que a afastava dos garotos e da atenção das pessoas em geral. A gente se tratava por “child” (criança), mas se havia alguém ali que precisava crescer psicologicamente, era a minha querida amiguinha.
No dia seguinte, fomos visitar Hollywood. Passamos a tarde olhando as estrelas na calçada da fama do Hollywood Boulevard. Melissa procurou pela estrela de Orlando, inutilmente. Eu disse a ela que acharia difícil que houvesse alguma, já que eu tinha lido um artigo no New York Times que o descrevia como uma nova estrela já decadente, muito embora eu tivesse razões para não acreditar. E mesmo se isso fosse verdade, um bom marketeiro poderia reverter a situação. Melissa fez um muxoxo quando eu falei de marketing e disse que se fosse fácil assim, eu como publicitária daria uma ótima presidente da república. “Prefiro ser cantora”, eu disse. E então prosseguimos ao passeio, admirando a bela paisagem e discutindo frivolidades.
Àquela semana se seguiram passeios à praia e à Disneylândia. Sim, a praia... Apesar do inverno, a temperatura de 18 graus estava ótima para um passeio a beira-mar. Melissa estava feliz, e eu também. Às vezes as lembranças de Jim me davam uma pontada no coração, então eu procurava me ocupar com alguma coisa. Em um desses dias, terça feira à noite, Melissa me chamou para assistir seu DVD do filme Tróia. “Logo esse filme?”, pensei, um ótimo filme épico, mas naquele dia eu não estava muito a fim de ficar olhando a atuação do Orlando, que àquelas alturas deveria estar ocupado com os resultados do Globo de Ouro. Mesmo assim, preparei pipoca e suco de laranjas e me joguei no sofá.
Lá pela quarta ou quinta cena, o telefone tocou, e Melissa nem se moveu. Levantei e fui atender, era Vanessa. Trocamos confidências, falamos sobre seus filhos, sobre o Globo de Ouro que Johnny perdeu para Joaquim Phoenix e quando surgiu o nome de Orlando, que não foi à premiação, ela me chamou a atenção para um detalhe: Ele olhara diversas vezes para a aliança na minha mão direita. E foi um fato inusitado, pois salvo engano, parece que ele tinha uma namorada. Depois que desliguei o telefone, pensei que talvez tivesse sido por isso que ele não me ligara. Ou talvez não fosse... Mas no que isso interferia? Será?

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 3 - O Jantar

Cheguei à casa dos Depp por volta das seis da tarde, a pedido de Vanessa. Conversamos por um longo tempo, sentadas nas almofadas da sala de estar do piso superior. Johnny estava em estúdio terminando as dublagens de “Piratas do Caribe 2”.
Era quase nove horas da noite quando Vanessa pegou um violão e mostrou a canção que compusera no dia anterior. Quando terminou de cantar e tocar, ela pediu para que eu também tocasse um pouco, não antes de ligar para saber se o marido já estava vindo para casa e checar se estava tudo pronto na cozinha. Toquei uma música que não tinha entrado no meu cd e depois ela pediu uma canção brasileira. Lembrei de “Quem de Nós Dois” (Ana Carolina) e comecei a cantá-la, quando ouvi um ruído de porta abrindo e vozes. Quis parar, mas Vanessa acenou para que eu continuasse. Em poucos minutos os recém chegados se aproximaram, e ao entrar na sala, sentaram-se nas poltronas próximas. Era Johnny e um rapaz claro, de mais ou menos um metro e oitenta de altura, cabelos e olhos castanhos. Eu o reconheci de algum filme, mas não lembrava seu nome. Quando terminei de cantar e me levantei do chão, Johnny me cumprimentou e brincou dizendo que se soubesse que havia um show em sua casa teria voltado mais cedo. O outro rapaz também se ergueu para me cumprimentar, e quase deixei o violão cair quando ele disse, sorrindo:
- Oi Krystal, já nos falamos antes... Sou Orlando.
Estava em minha frente o desconhecido que me telefonara alguns dias antes, e que também fazia aniversário naquele dia. Percebi então que não era só Melissa quem precisava se acostumar com os amigos famosos... e bonitos. Orlando não tinha os cabelos loiros e os profundos olhos azuis de Jim, mas me pareceu extremamente belo, afinal, aprendi admirar características assim no Brasil.
Descemos para o jantar, conversando animadamente. À mesa, Orlando sentou-se ao meu lado e Johnny e Vanessa à nossa frente. O clima era de uma reunião de velhos amigos, muito embora fosse a primeira vez que eu encontrava Orlando e só visitasse os Depp uma ou duas vezes por ano. Mas assunto não faltou, já que o Sr. Blanchard me dirigia várias perguntas e os outros ouviam as respostas, interessados. Em determinado momento, o moço comentou algo sobre o dia em que me telefonou, e Vanessa interrompeu, intrigada:
- Ei, vocês já se conheciam ou não?
Então Orlando contou como foi nosso primeiro contato.
-... Ela não sabia quem eu era, mas eu também não ia ligar e dizer “olá, eu sou o Orlando Bloom e tal...”, já pensou se eu disco algum número errado e a pessoa do outro lado começa a gritar “aaahh, eu sou sua fããã”!! Eu preferi correr o risco de ela desligar na minha cara...
- Na verdade era o que eu ia fazer – retruquei, brincando – mas quando você gritou “parolar!!” eu mudei de idéia...
- Muito bem – disse Johnny com um sorriso maroto – não se pode maltratar ninguém sob a proteção da parola!
- Caras... Melhor a gente parar com esse papo de piratas!! - disse Vanessa, fazendo todos gargalharem enquanto Johnny cantava, alto e desafinado, “yo ho, yo ho, a pirate’s life for meee!”. Ele parou de repente, pigarreou, fingiu estar envergonhado e disse:
- É... Acho que estou dando vexame, temos duas cantoras à mesa...
Era quase meia noite quando deixei a casa dos Depp, que me convidaram a voltar em breve. Orlando me ofereceu carona para a região central, mas agradeci dizendo que iria um pouco mais ao sul e estava de scooter. Ele sorriu e prometeu manter o contato, dizendo que fora um prazer ter me conhecido pessoalmente.
Melissa já dormia quando cheguei em casa. Escovei os dentes e me joguei na cama, relembrando o jantar e o novo amigo. “Foi demais”, pensei. E adormeci pouco depois.