Lado K

Aquele lado do Karamba, do Kct e "K"etc., que assim como vocês, eu também tenho.

quinta-feira, março 30, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 17 – Xeque Mate

Tentando me controlar, prometi uma resposta a Jim, mas não naquele dia. Nos despedimos amigavelmente, mas sem beijos. Pouco tempo depois de ele ter deixado minha casa, ouvi duas batidas na porta e Melissa entrou, correndo:
- Ei Krystal, sou eu! Onde você está?
- Estou saindo do toalete, pode subir.
Melissa subiu a escada e me encontrou secando o rosto com uma toalha, olhos vermelhos.
- Oh, me desculpe...
- Sem problemas, criança. Foi bom você vir.
- É... Vi o Jim saindo e vim saber se está tudo bem.
- Mais ou menos... Estou confusa, acho que preciso me aconselhar com alguém. Pode ir comigo?
- Claro que sim! Agora mesmo, se quiser.
A First Christian Community of Nashville não era longe, e vinte minutos depois, o bispo Joseph nos recebia em seu escritório nos fundos da igreja. Seu rosto já marcado pela idade e seus cabelos brancos contrastavam com seu espírito jovem e entusiasta.
- Oh minhas princesinhas! O que traz Melissa e a nova diva de Nashville aqui?
- Gostaria que me ajudasse... – eu disse - Preciso tomar uma decisão.
Eu nem me lembrava mais que o meu primeiro single era a terceira música mais pedida nas paradas de Nashville e que brevemente eu não passaria mais tão despercebida nas ruas. Meu coração me tomara todo o tempo disponível, e eu andava sempre pensativa. Eu não podia acusar Jim de traição, pois eu também o havia traído; Eu não podia dizer que amei Orlando em tão pouco tempo embora fosse quase uma verdade, mas Jim ainda me causava arrepios só de olhar. No entanto, naquele mês de janeiro, o que me faltou em um eu encontrei no outro. Eu já estava acostumada com o amor de Jim, mas a sinceridade e a dedicação de Orlando me deixaram balançada... Indecisa... Então de repente Jim reaparece e traz de volta o meu amor e a vontade de perdoá-lo. E?... E eu contei isso ao bispo, que já era nosso antigo confidente.
- Minha querida – disse o velho Joseph – Eu não irei decidir por você, mas quero que reflita sobre algumas coisas. Primeiro: Uma paixão de férias não significa um amor eterno. Segundo: Você e o outro rapaz tiveram um mês para se conhecer, o que não me parece tempo suficiente. Lembre-se do início do seu namoro com James e como depois da empolgação inicial vocês foram descobrindo os defeitos um do outro, construindo toda uma estrutura no relacionamento, até se passarem mais de dois anos até hoje. Você tem mesmo certeza de que quer começar tudo de novo com outra pessoa? Você já se imaginou ter filhos e passar uma vida inteira com alguém que tem uma carreira mais agitada que a sua e passa pouco tempo em casa? Vocês conseguiriam conciliar tudo isso? James é o seu namorado, seu amigo e colega de trabalho. E se você acha que estou dizendo isso porque continuar com ele é mais cômodo, engana-se. Eu também me senti atraído por outra garota quando namorava a minha esposa, mas certa vez Deus me questionou se eu amaria a outra mais do que a Hermione. Reconheci que não, e hoje já são quase quarenta anos juntos. Se você é capaz de mensurar o seu sentimento por James, faça-o. Certamente vai se surpreender. Mas se julgar mesmo melhor deixá-lo, procure ouvir a opinião do nosso Pai a respeito. Só desejo que seja feliz e abençoada.
Saí da sala do bispo mais aliviada, pedindo a Deus que me iluminasse. Passei o resto da tarde refletindo sobre o que Joseph dissera. Não chorei mais, me sentia mais calma e capaz de raciocinar com mais frieza. Mesmo sentindo a falta de Orlando, eu me questionava se era ele quem eu realmente queria. Anoitecia, mas eu sentia que racionalmente as coisas estavam clareando. Foi quando me levantei e comecei a desvirar um a um os porta-retratos da sala. Então o telefone tocou.

segunda-feira, março 27, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 16 – James, O Culpado

Os pais de Melissa nos esperavam no aeroporto de Nashville, ansiosos. A garota estava corada, parecia feliz. E eu exibia um sorriso visivelmente abatido. O caminho de casa pela Charlotte Street parecia uma visão de um lugar que há muito eu havia deixado para trás (e não havia nem um mês que eu o havia percorrido). Estranhei minha casa. Quando entrei, fui virando um a um os porta-retratos com fotos de Jim, e percebi que precisaria de pelo menos uns três dias para me readaptar.
E foi no quarto dia que recebi uma visita que eu já esperava. Enquanto assistia TV na sala de estar, ouvi um barulho de carro estacionando. Pela fresta da janela eu vi uma Hilux preta, mas não era Orlando. Me surpreendi ao ver Jim saltar de seu novo carro e se dirigir à minha porta. Assim que ele tocou a campainha, me lembrei do sonho que tive. Logo abri a porta e o convidei a entrar. Um Jim calado e meio cabisbaixo entrou e nos sentamos no sofá, um de frente para o outro para conversarmos, enquanto bebíamos chá.
- Se for possível, por favor, apenas me ouça. – disse Jim - Tenho muito a dizer e não gostaria de fazer pausas.
- Ok James, como quiser.
Notei que suas mãos tremiam. Mas eu também estava lutando para disfarçar o meu nervoso. Jim continuou:
- Bem... Não preciso lembrá-la da última vez que nos falamos. Eu estava em conflito comigo mesmo e pensei que a minha visita ao Kentucky fosse a solução dos meus problemas, mas na verdade foi lá que todos eles começaram. Como você sabe, depois que vim de Hodgenville para Nashville cursar o colegial, voltei e morei lá por mais dois anos. Foi nesse tempo que comecei a namorar a Carol, aquela garota da fazenda ao lado. Quando consegui o emprego na gravadora, prometi a ela e a seus pais que eu voltaria para nos casarmos. Não preciso dizer que esqueci dessa promessa quando te encontrei. Passei a evitar Carol e contei ao meu avô sobre você. Ele não aprovou porque sabia do que eu tinha prometido, disse que promessa era dívida e que ele já tinha algo reservado para ela e eu. Talvez você não soubesse, mas acho que agora é a hora. Depois dessa conversa só vi meu avô mais uma vez, quando ele veio na casa dos meus pais. Ele faleceu, mas suas palavras me deixaram dividido, você sabe, os velhos quase sempre têm razão. A idéia de que minha avó estava sozinha e Carol poderia estar me esperando passou a me atormentar, e resolvi então voltar para dar um fim nessa história. Ao chegar lá, encontrei Carol morando com minha avó e me esperando, mesmo tendo visto você comigo no dia do enterro. Devo confessar que até pensei ser uma injustiça quebrar minha promessa, e quase reatei o namoro... Nós... Nós ficamos juntos alguns dias, para ser sincero. No testamento de meu avô há um lote da fazenda separado para Carol e eu, mas eu não me sentia mais feliz com ela, e todas as noites eu sonhava com você. Se eu pensava em voltar para Kentucky, algo me dizia que o mundo ficaria tão pequeno sem você... De repente Juliette me ligou dizendo para que eu voltasse logo se não quisesse te perder de vez. Fiquei desesperado quando soube que você estava em Los Angeles com alguém e descobri então que o que me prende a você é maior do que qualquer promessa que fiz no passado. Finalmente disse a Carol que não irei me casar com ela. Isso quase a enlouqueceu, mas o meu coração é teu, Krystal, não tem jeito. Não posso mudar o testamento do meu avô, mas posso dar minha herança como indenização para Carol. Por outro lado, eu sei que te magoei, e gostaria muito que me perdoasse. Talvez você não está disposta, mas por isso mesmo vim me explicar, pois sou eu o culpado por tudo o que aconteceu. Não sei quem é o tal cara de LA e se você o prefere a mim, mas eu preciso da sua resposta e vou respeitá-la. Eu... Eu só vim aqui para dizer que ainda te amo... Demais.

quarta-feira, março 22, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 15 – Despedida

Não tive do que me queixar naquela segunda-feira. Paguei as contas, arrumei as malas e devolvi a scooter. Ia para o aeroporto de táxi, mas Orlando ligou dizendo que iria me levar. Mas mesmo com tudo dando certo, eu me sentia perturbada, e além de perturbada, doente. A temperatura de 12 graus, muito comum no inverno, parecia exageradamente gelada. Pela tarde, deitei no sofá e me enrolei com dois edredons, dentes rangendo, Melissa do meu lado, conjeturando:
- Criança, se você não estiver com febre, deve estar maluca. Não está tão frio assim!... Não. Você não ia enlouquecer em um período de férias. Já sei. Acho que é o Jim... Não! É o Orlando! Não é, não é? Ééé! Que fria... Eu desconfiava!!
Uma lágrima teimosa escorreu pelo meu rosto. Melissa podia saber... Ela me entendia. Mas não abri a boca, afinal, só de saber que eu e Orlando estávamos "interessados" um no outro já era demais.
Mais tarde, tomei um chá com pão de queijo e fui dormir. Acordei diversas vezes durante a noite, sobressaltada. E amanheci completamente melancólica.
Às onze e meia da manhã, a campainha tocou. Era Orli que, já conhecido do porteiro, subiu sem ser anunciado. Ele trouxe DVDs autografados para Melissa e para mim, e eu retribuí os presentes com um pequeno pingente de safira azul. Fechei o apartamento, descemos, nos despedimos do porteiro e arrumamos a bagagem na caminhonete. Logo em seguida, partimos sentido sudoeste.
O Aeroporto Internacional de Los Angeles era perto, e chegamos com um bom tempo de antecedência. O vôo sairia à uma e dez da tarde, e meio dia e vinte já estávamos sentados nas poltronas de um canto da plataforma onde poucos poderiam nos reconhecer, e principalmente a Orli, que estava com uma discreta touquinha de lã. Logo, Melissa se afastou para despachar as bagagens, nos deixando sozinhos. Orli pegou minha mão e ficamos por minutos nos olhando, calados. Ele só reagiu quando tentou conter sua comoção vendo uma lágrima descer pelo meu rosto.
- Não chore, querida. Tudo ficará bem.
- É, eu sei... Odeio despedidas...
Orlando tentou me distrair então, me dando alguns conselhos sobre a minha carreira. O tempo logo passou e os alto-falantes já anunciavam a primeira chamada para o nosso vôo. Melissa voltou e nos encaminhamos para o embarque.
- Foi um prazer conhecê-lo, Orli – disse Melissa – Obrigada pelos presentes e parabéns por ser tão gentil e tão brilhante. Esperarei notícias suas.
- O prazer foi todo meu, senhorita Mel Barrimore. Você é uma garota muito amável. Não vou esquecer de contar ao Chris sobre você. E certamente ouvirá sobre mim em breve.
Eles se abraçaram e Melissa sumiu pelo corredor, nos deixando novamente sozinhos. Orlando me abraçou forte e sussurrou no meu ouvido:
- Oh meu amor... Me perdoe por tudo! Obrigada por aparecer na minha vida... Você sabe o quanto eu te adoro. Nunca vou esquecê-la, e espero que nossa amizade continue independente do que aconteça. Te desejo boa sorte em Nashville, mesmo que isso signifique que eu nunca mais possa beijá-la. Se eu não tiver coragem de te ligar até domingo, me mande um e-mail... Voltarei para as Bahamas amanhã à noite.
- Orli, meu querido... Você é maravilhoso! Quero também que seja feliz, saiba que você significa muito para mim, gosto demais de você. Nem sei o que dizer... Mas se precisar de uma amiga pode contar comigo, eu prometo.
Levantei um pouco a aba da touca de Orlando e o beijei na testa. Nossos olhos se encontraram por um instante, e nossos lábios se tocaram pela última vez. A última chamada para o vôo ecoou na plataforma e nos afastamos, olhos marejados de lágrimas. Fui andando e quando olhei, Orli acenou para mim.
Entrei no avião, sentei e fechei os olhos. Não quis ver Los Angeles ficando para trás.

quarta-feira, março 15, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 14 – A Volta de James

Orlando se levantou e foi ao toalete, talvez para se aliviar de alguma forma. Sentada no sofá, fechei minha blusa e jaqueta que ainda estavam abertas e tentei arrumar os cabelos. A TV estava desligada, e eu ainda podia ouvir a voz de Orlando ecoando na minha mente, “Por que eu não posso tê-la, querida?” Por que eu ainda pensava que amava Jim? Nem pelo apelido eu o tratava mais... Não sei se era Deus, se era um diabo ou se o problema era comigo mesma. Quando percebi, já estava com o rosto entre as mãos molhadas de lágrimas. E foi assim que Orli me encontrou. Assustado, ele se ajoelhou e segurou meus braços:
- Por favor, me perdoe... Eu não quis te magoar ou fazer nada que você não quisesse... Não chore amor, me perdoe...
- Está tudo bem, querido... – respondi entre soluços – Está tudo bem entre nós... Eu... Eu só não entendo como ainda posso gostar de alguém que... Que virou as costas para mim. Estou me detestando por isso! Você tem se mostrado tão gentil... Preocupado comigo... Mas se eu tivesse cedido aos nossos desejos... Eu sofreria muito depois, de arrependimento, de culpa... De ter talvez traído alguém que nem...
- Calma, linda – Orli sentou-se ao meu lado e me amparou – Não precisa sofrer por antecipação. Talvez você tenha mesmo feito a coisa certa... Talvez ainda haja tempo de o seu namorado compreender o que está perdendo e...
- Ei! Pensei que você não me apoiasse em voltar para ele... Está me testando?
- Desculpe querida, não foi o que eu quis dizer. Você sabe que não apoio sua volta nem para Inglewood, quanto mais para Nashville. Devo dizer que você... Você tem me feito esquecer Kate, pelo menos um pouco... Na verdade, eu sei, a culpa é minha... Sabe, depois dela eu não pensei em mais ninguém até conhecer você e... Fomos nos conhecendo, e eu... Eu fui me apaixonando. Me perdoe por isso, eu não queria chegar a esse ponto...
- Não há o que perdoar, querido... Eu também me apaixonei por você.
Se minha alma não fosse tão ligada a Jim, eu certamente teria jogado minha aliança pela janela. Mas por mais arrebatadora que fosse minha paixão por Orlando, eu tinha de lembrar que outra realidade me esperava. Era hora de partir.
Orli me levou para casa. Ainda nos despedimos com beijos calorosos, mas já estávamos cientes do que teríamos de encarar. Melissa abriu a porta para mim, apreensiva, mas tentei disfarçar minha dor. De repente, ela disse:
- Jim ligou agora há pouco.
- O que ele queria? – Perguntei, num tom irônico.
- Disse que já está de volta a Nashville. Perguntou também de onde é o número desse telefone.
- Ah é? – Esbocei um sorriso irônico - Agora que ele quis saber?
- É... E quando respondi, perguntou que diabos estamos fazendo em Los Angeles. Eu disse que responder seria o mesmo que perguntar o que ele foi fazer em Kentucky.
- Ótima resposta.
- Não sei, talvez não. Depois me arrependi de ter sido indelicada com ele.
- Ora, não seja boba, Melissa. Por que se arrependeria?
- Porque ele reagiu de um modo estranho... Ficou com a voz embargada, disse que tudo bem, a culpa era mesmo toda dele e desligou.
Fiquei confusa, olhando para Melissa e esperando que ela tivesse alguma explicação adicional, mas isso era tudo o que ela ouvira. Fui dormir completamente dividida entre Jim e Orli, muito embora meu namorado me causasse mais preocupações. Mas por enquanto eu nada sabia. Só sabia que Nashville me esperava com alguma surpresa.

domingo, março 12, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 13 – Só Porque Jim Existe

Não havia constrangimentos no prédio de Orlando. O porteiro não ligava para os visitantes que entravam com os moradores, talvez por causa do circuito interno de TV, mas, bem, eu evitava olhar para as câmeras.
Ficamos por um longo tempo na sacada do apartamento, contando histórias de vida enquanto observávamos a paisagem tranqüila. Tudo parecia um sonho distante, um casal de namorados, embora soubéssemos que uma realidade não muito generosa nos aguardava além das fronteiras da cidade dos fugitivos. Apesar disso eu não pensava que traía Jim, talvez ele até merecesse que eu me distraísse com outro cara, afinal, ele simplesmente foi para Kentucky e me deixou a ver navios sem nenhuma explicação.
Orlando sugeriu que eu embarcasse Melissa para Nashville e ficasse no apartamento dele por mais alguns dias. É claro que eu não poderia e não deixei que ele me convencesse do contrário. Minha carreira exigia cuidados. Eu era uma cantora iniciante e teria que ser cuidadosa quanto às minhas agendas, e acima de tudo, deveria cuidar da minha imagem e viver o que eu acreditava ser o certo. Acho que no fundo, ele também sabia que não poderia fugir do trabalho por mais tempo.
Quando anoiteceu, estávamos sentados no sofá espaçoso e macio da sala de estar, mas a programação da MTV não parecia muito interessante para Orli. Percebi que ele se aproximava de mim aos poucos, até quando começou a afagar meus cabelos. Eu tentava me concentrar nos videoclipes, nos comerciais, mas ao sentir seu rosto se aproximando do meu, fui me desligando involuntariamente do que assistia, e logo tudo não passava de cores vagas e sons distantes. Fechei os olhos.
O cheiro de Orlando me embriagava, e logo seus lábios finos e perfeitos que apenas roçavam em meu rosto acabaram por encontrar minha boca. Beijos macios, demorados, insaciáveis. O tempo, o espaço e as circunstâncias desapareceram. Instantes depois, Orli pressionou levemente seu corpo por cima do meu enquanto beijava meu pescoço e ia descendo lentamente em direção a minha barriga... Suas mãos, eu já não sabia exatamente onde estavam, mas corriam desenfreadas pelas curvas do meu corpo. Eu não conseguia pensar em nada, mas o descontrole era mútuo e parecia que tudo o que eu tentara sustentar através das minhas palavras durante todo o dia perdia-se naquele momento de loucura e excitação.
Despertei do meu torpor quando percebi as mãos de Orli tentando abrir minha calça. Não, eu não poderia ir mais longe, mesmo que eu quisesse. Com uma coragem inesperada, segurei suas mãos e sussurrei:
- Querido... Acho que é melhor parar por aqui.
Ele me lançou um olhar desesperado, suplicante, contrariado:
- Não, linda... Por favor, vamos terminar isso...
- Desculpe, amor... Mas infelizmente não posso ir além. Por favor, não insista...
Era difícil resistir a Orlando, mas eu tinha de fazê-lo. Abracei-o, beijando seus cabelos e aconchegando sua cabeça em meu peito nu. Ele sussurrava, inconformado:
- Por que eu não posso tê-la, querida? Me dê uma boa razão... Por que chegamos a esse ponto e não podemos ir em frente?
- Porque... James e Kate existem... Ainda estamos presos a eles, queira ou não. Eles ainda nos esperam, para uma reconciliação ou um fim.
Quando disse isso, ele olhou nos meus olhos e disse:
- Eu não me importaria em terminar com Kate... Desde que fosse para ficar com você.
- Talvez ainda exista sentimento, Orli – respondi devolvendo o olhar – Mas se tudo fosse diferente... Eu também não me importaria nenhum pouquinho.
Ah se a realidade fosse tão simples quanto quiséssemos que fosse... Mas nos separaríamos em breve. Seria um mal necessário e um destino do qual não podíamos fugir.

segunda-feira, março 06, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 12 – Eu, Eu Mesma e Orlando

- Você nem assistiu ao programa, não é Orli?
- Só até o último bloco. Mas programei para gravar tudo. Por que?
- Uma fã sua me questionou sobre a gente estar saindo junto.
- Sério? Não vi... Só um minuto.
Ele levantou-se e buscou o DVD que gravou o programa e colocou-o na TV da cozinha, buscando a cena. A emissora exibiu a foto dos jornais no momento que eu respondia a pergunta. Orli comentou:
- Você respondeu bem, apesar de que as pessoas não se convencem muito. E eu não tinha visto a foto ainda... Ficou engraçada.
- Depois essa fã veio falar comigo de novo... E mandou um abraço para você.
- Obrigado. Ela não me é estranha... sempre recebo fotos das fãs de Vernon, é um dos maiores fã-clubes da Califórnia. Bom, a moral dessa história toda é que temos de nos disfarçar bem na próxima vez que sairmos.
- Talvez nem haja mais tempo até terça feira – respondi, cética.
- Imagine... Ainda temos alguns dias – retrucou ele, com um sorriso malicioso.
Mudamos de assunto e Melissa contou que tentaria ir para Harvard no próximo ano.
- Tenho um amigo, o Chris, que também irá fazer um curso lá. Tenho certeza de que ele adoraria conhecê-la, Melissa. Ele é fã da Drew Barrimore e de garotas de olhos verdes. Calma, não precisa ficar vermelha... Não agora! Mas vou falar com ele sobre você...
Após o jantar, fomos para a sala. Orli e Melissa se entenderam perfeitamente sobre videogames e até jogaram uma partida do FIFA 2006 juntos. A segunda partida Melissa jogava sozinha, enquanto Orli me levou à sacada do apartamento, deixando as luzes apagadas. A paisagem noturna de Beverly Hills era agradabilíssima, e ele segurou minha mão, me pedindo que fosse passar o final de semana com ele. Eu tinha de arrumar minhas malas para a viagem de volta, mas... Droga, ele sempre me convencia! Mesmo assim, não dei resposta. Pedi que ele me ligasse no dia seguinte e depois trocamos alguns beijos rápidos.
Voltamos logo para a sala, onde logo Melissa terminou de jogar e nos encaminhamos para a saída. Pedi que ela guiasse a scooter, eu não estava com vontade e nem com muita pressa. É que algo já me incomodava ao pensar que logo iríamos embora...
Ainda havia uma porção de coisas a fazer. Limpar o apartamento, arrumar as malas, pagar algumas pendências e devolver a scooter na segunda feira. Disse a Orli que só passaríamos o domingo juntos. Na verdade, o que eu queria mesmo era fugir da falta que ele começava a me fazer. Eu queria estar perto dele, mas sabia que lá no fundo, minha alma ainda chamava por Jim... Jekyll e Hyde começavam a brigar outra vez, e a cidade dos fugitivos já não me parecia mais tão acolhedora assim... Era hora de fugir novamente.
Orlando foi me ver no sábado à tarde. Tomamos café e ficamos ao violão pela tarde inteira. Quando ele foi embora, fiquei conversando com Melissa. Em determinado momento, ela se virou com um olhar preocupado e disse:
- Me desculpe, mas estou estranhando a sua amizade com o Orli. A maneira como vocês se tratam, vocês se vêem quase todo dia e tal... Sei lá, se estivesse no seu lugar, não sei o que faria. Só espero que não se iluda...
Sei lá também. Eu vivia o momento e não gostaria de pensar no que viesse depois. Eu estava chateada e até revoltada com Jim, então, que eu fosse feliz enquanto estivesse longe dele, não importasse como. Mas eu sentia medo por estar tão ligada a Orlando.
No domingo, Orli foi me buscar às dez da manhã. Peguei a bolsa e um cd que autografei para ele e quando ia em direção à porta, Melissa me parou e disse:
- Criança, não se esqueça do Jim...
- Quem ama cuida – respondi gravemente - E o James não parece estar nenhum pouco preocupado em cuidar de mim.

sábado, março 04, 2006

.:: TUDO ACONTECE EM RUNAWAYTOWN ::. Capítulo 11 – Wilshire Boulevard

O programa começou e Melissa não retornou. Havia cerca de 200 pessoas no auditório, em sua maioria jovens. Na hora que entrei, meia dúzia de meninas protestaram lá do fundo, mas logo foram contidas pelos seguranças.
O começo da entrevista foi tranqüilo, contei como cheguei a Nashville e meu trabalho na Forefront Records no departamento de marketing até o meu contrato para gravar o cd. Depois comentei sobre as músicas, o porque disso e daquilo, cantei algumas canções entre um bloco e outro e depois me preparei para as perguntas da platéia.
Algumas mãos se levantaram. O apresentador me deixou sozinha no palco e desceu com seu microfone aos corredores do auditório. Perguntaram-me sobre causas humanitárias, opiniões e algumas questões pessoais, inclusive se eu tinha namorado. Eu estava de aliança no dedo, com o aplique de correntinha. De repente, uma das garotas do fundo que protestaram quando entrei, levantou a mão, e o apresentador lhe deu o microfone. Ela disse:
- Meu nome é Audrey, sou do fã-clube do Orlando Bloom em Vernon. Me desculpe a franqueza, mas sua postura nos parece um pouco controversa. Você quer passar boas mensagens, parece ser certinha, mas há algo errado. Você está de aliança de compromisso e até citou o nome do seu namorado, mas sabe-se que você está saindo com Orlando. Como você se explica?
Respondi com calma, tentando ser o mais convincente possível:
- Bem, Audrey, tudo se explica se você não aplicar este “saindo com” de um modo pejorativo. Tenho me reunido com alguns amigos em Hollywood e Orlando Bloom é um deles. Por algum acaso nos encontraram juntos e tentaram fazer algum barulho, mas assim como foi o seu ídolo, poderia ser outro amigo, minha assistente ou um segurança. Eu entendo sua preocupação como fã, mas o que eu tenho a dizer neste momento é que o mundo seria melhor se não existissem revistas de fofocas.
A garota fez um sinal de positivo e sentou. Mas ao final do programa, enquanto conversava com algumas pessoas, ela se aproximou e apertou minha mão:
- Boa sorte para você... Espero que tenha dito a verdade e não esteja usando o Orli como degrau para se promover.
- A mentira tem pernas curtas, Audrey. Se eu mentisse hoje, poderia ser desmascarada amanhã e minha carreira estaria ameaçada. Obrigada por ter vindo. Se Orlando assistiu o programa, deve ter se sentido orgulhoso de você.
- Valeu Krystal... Mande um abraço para ele quando o encontrar.
Ao sair do auditório, Melissa veio logo ao meu encontro e cochichou:
- Ei criança, você combinou de sair com Orli agora?
- Não, por que?
- Ele está nos esperando lá fora...
Avistamos a Hilux logo que saímos do prédio e eu parei a scooter ao lado da janela do motorista. Orli abriu o vidro e pediu para que o seguíssemos. Descemos a Fanfax Avenue, virando no Wilshire Boulevard. Paramos próximo ao Hancock Park, em frente a um belo prédio residencial. Orli disse:
- Estou morando aqui. Vamos colocar a scooter em cima da caminhonete para eu entrar na garagem. Me espere na portaria.
Minutos depois, chegamos ao oitavo andar. Orli abriu a porta:
- Entrem, por favor. Não é tão alegre como o apartamento de vocês, mas espero que se sintam confortáveis. Sinto a falta do Sidi, meu cachorro. Eu o deixei com Kate, espero que ela esteja cuidando bem dele.
Era um pequeno apartamento muito bem decorado. Para o jantar, havia comida chinesa. Melissa parecia menos envergonhada à mesa, certamente estava adorando o jantar surpresa de Orli. Eu estava tranqüila, pensando que pelo menos naquela noite ele não me agarraria novamente. Mas... O beijo dele era tão bom...